Nos últimos tempos a palavra "crise" é uma das mais usadas na nossa sociedade. Atrás dela vêm muitas outras como "desequílibrio", "falta de estabilidade", "perda", "risco", etc.
Parece ser, últimamente, muito associada a falta de valores ou perda de valores.
As sociedades, inexplicavelmente, tornaram-se vítimas desta ausência de valores.
E que importância assumem esses valores ?
Diria, com alguma simplicidade, que são todos aqueles princípios que alimentam o nosso espírito e que, quase naturalmente, suportam a nossa educação, a nossa formação como seres humanos e que nos fazem sentir completos.
Os tempos parecem andar um pouco arredados desta forma de educar, de formar, de viver, deixando-se orientar por aspectos mais materialistas e superficiais, cuja durabilidade vai sendo corroída, desembocando numa existência vazia.
Desviamo-nos cada vez mais da nossa espiritualidade, o que nos acarreta alguma angústia.
Talvez seja a hora de encararmos a vida de uma outra forma, dando valor ao que somos - seres humanos que têm tudo para saber escolher melhores caminhos.
Todos devíamos fazer uma reflexão na actual realidade social.
A nossa fácil tendência para proferir "opinião" sobre tudo ou quase tudo, atribuir responsabilidades como se não tivéssemos nisso parte, é o normal comportamento do ser humano. Não somos, por isso, diferentes.
Mas em que podemos reflectir? Ou em que podemos contribuir para activamente nos envolvermos na sociedade que nos rodeia?
Talvez tornando-nos mais participativos, mais envolvidos, mais cooperadores.
Pequenos gestos podem fazer a diferença. Sermos menos indiferentes, menos alheados, menos distraídos.
Um "bom dia" aos nossos vizinhos, um sorriso ao condutor que pára na passadeira para nos deixar atravessar a rua tranquilamente, um "obrigado" a quem nos serve o café à mesa, um "boa semana" à menina da caixa do hipermercado, faz diferença, faz a nossa diferença.
E em pequenas coisas que não custam nada, podemos marcar o início de mudança de atitudes que levarão a uma sociedade mais humanizada.
Dá-me um abraço, fica por perto, neste aperto tão pouco espaço. Não quero mais nada, só o silêncio do teu abraço.
É nesse abraço que eu descanso, esse espaço que me sossega. E quando possas, dá-me outro abraço, só um não chega.
(Miguel Gameiro)
Chegámos ao novo ano. Não sei se, para todos com alegria ou, pelo menos, com a decisão de o viver saudavelmente.
Parece tão óbvia esta frase.
Até porque saúde é um daqueles desejos que costumamos pedir ao toque das últimas badaladas e, carinhosamente, mais ou menos carinhosamente, pronunciamos nos telefonemas aos nossos amigos, aos mais chegados porque aos outros é através de um qualquer daqueles meios electrónicos da modernidade.
Saúde como antónimo de doença, naturalmente.
Que Deus nos livre duma doença!
É bem verdade.
Mas deixamos muita coisa na mão de Deus, fugindo à nossa quota parte.
Talvez nos falte alguma decisão ou uma verdadeira decisão de viver este ano saudavelmente, de corpo e de espírito, nós humanos por inteiro.
Aliviarmo-nos da carga em que muitas vezes nos deixamos caír, do fatalismo que últimamente nos entra pelos olhos dentro e sobrepor-lhe aquilo que, parecendo pouco, é muito - VIVER.
Navega, descobre tesouros,
mas não os tires do fundo do mar,
o lugar deles é lá.
Admira a Lua,
sonha com ela,
mas não queiras trazê-la para Terra.
Goza a luz do Sol,
deixa-te acariciar por ele.
O calor é para todos.
Sonha com as estrelas,
apenas sonha,
elas só podem brilhar no céu.
Não tentes deter o vento,
ele precisa correr por toda a parte,
ele tem pressa de chegar sabe-se lá onde.
As lágrimas?
Não as seques,
elas precisam correr na minha, na tua, em todas as faces.
O sorriso!
Esse deves segurar,
não o deixes ir embora, agarra-o!
Quem amas?
Guarda dentro de um porta jóias, tranca, perde a chave!
Quem amas é a maior jóia que possuis, a mais valiosa.
Não importa se a estação do ano muda,
se o século vira, conserva a vontade de viver,
não se chega a parte alguma sem ela.
Abre todas as janelas que encontrares e as portas também.
Persegue o sonho, mas não o deixes viver sozinho.
Alimenta a tua alma com amor, cura as tuas feridas com carinho.
Descobre-te todos os dias,
deixa-te levar pelas tuas vontades,
mas não enlouqueças por elas.
Procura!
Procura sempre o fim de uma história,
seja ela qual for.
Dá um sorriso àqueles que esqueceram como se faz isso.
Olha para o lado, há alguém que precisa de ti.
Abastece o teu coração de fé, não a percas nunca.
Mergulha de cabeça nos teus desejos e satisfá-los.
Agoniza de dor por um amigo,
só sairás dessa agonia se conseguires tirá-lo também.
Procura os teus caminhos, mas não magoes ninguém nessa procura.
Arrepende-te, volta atrás,
pede perdão!
Não te acostumes com o que não te faz feliz,
revolta-te quando julgares necessário.
Enche o teu coração de esperança, mas não deixes que ele se afogue nela.
Se achares que precisas de voltar atrás, volta!
Se perceberes que precisas seguir, segue!
Se estiver tudo errado, começa novamente.
Se estiver tudo certo, continua.
Se sentires saudades, mata-as.
Se perderes um amor, não te percas!
Se o achares, segura-o!
Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala.
"O mais é nada".
de Fernando Pessoa
Olhamos para trás e o tempo passou.
Cedemos à angústia do que não fizémos e devíamos ter feito.
Lamentamos todos os momentos em que não soubémos estar neles por inteiro.
E sai-nos aquele desabafo "quem me dera...".
Mas já ninguém nos dá.
Nada ou pouco aprendemos.
Continuamos a viver o presente com penas do passado e angústias do futuro.
Esquecemos-nos que cada minuto a mais é um minuto a menos.
E temos este terrível defeito de cansar demasiado os pés por muito curtas que sejam as nossas passadas.
Porque nos recusamos a sair do luto que carregamos toda a vida?
Porque tratamos as dores físicas e descuramos as dores emocionais?
Porque temos o direito de chorar e não o dever de rir?
Porque precisamos de trabalhar se não temos tempo para o lazer?
Porque queremos ter tudo se nem ao pouco damos valor?
Porque receamos o silêncio se o barulho nos incomoda?
Porque não acertamos com a vida se temos tão certa a morte?
Minha senhora da solidão
Minha senhora das dores
Quanto tempo falta para te ver sorrir
Quantas misérias ainda vais exibir
Quanto tempo mais vou ter de te ouvir queixar?
Minha senhora da solidão
Vê como o sol brilha hoje
Odeio ver-te sempre de luto
Gostava de ver o teu olhar enxuto
De descobrir alguma graça no teu andar
O teu crucifixo não me ilumina
O teu sacrifício não me pode fazer bem
Não é bom para ninguém
Hum, não ajudas ninguém...
Minha senhora da solidão
Minha senhora dos prantos
Tens um "ai" encravado na boca
Que dia após dia te sufoca
Precisas bem mais que uma simples oração
Minha senhora da solidão
Minha senhora das culpas
Tenho que evitar o teu contágio
Não quero mais saber do teu naufrágio
A praia teve sempre ao alcance da tua mão
O teu crucifixo não me ilumina
O teu sacrifício não me pode fazer bem
Não é bom para ninguém
Hum, não ajudas ninguém...